segunda-feira, 11 de maio de 2009

Você viu o que eu vi?

A cruz do Morro do Cruzeiro, em São Thomé das Letras. Foto de Luiz Felipe Brandão

Com o perdão do trocadilho, São Thomé das Letras é uma cidade mineira que só vendo pra crer. Surgida no alto de uma montanha de quartzito, fica a quase 1.500 metros acima do nível do mar. É considerada mística, por isso grande parte do turismo local se baseia na exploração do universo exotérico. Por suas ruas e construções todas feitas de pedra fatiada e empilhada, topei com algumas figuras humanas interessantíssimas, muitas das quais largaram tudo para viver naquele cenário que parece saído da imaginação daquelas próprias figuras.

Considerada uma das localidades brasileiras mais propícias para a observação de fenômenos extraterrestres (isso mesmo), São Thomé é muito visitada por quem, de alguma forma, se interessa pelo estudo da vida em outros planetas. Não é exatamente o meu caso, mas como jamais duvido do que não conheço, juntei-me a alguns amigos do IPEN, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP, alugamos um ônibus e partimos de São Paulo, numa noite de sexta-feira já perdida no tempo. Na viagem, nos acompanhavam um fotógrafo profissional e um ufologista, convidado por nós para nos ajudar a entender o que poderíamos encontrar, se é que encontraríamos.

Na estrada, tivemos nosso primeiro contato com fatos inexplicáveis: o ônibus tinha toca-fitas, mas só havia uma fita K-7 a bordo, que tinha sido levada pelo motorista. Assim, ouvimos "The Best of ABBA" quase a noite toda...
Chegamos na cidade no início da manhã, depois do ônibus subir, subir e subir o sinuoso caminho que levava ao topo daquela grande pedra. Após um café reforçado, saímos para conhecer os arredores, as cachoeiras, corredeiras, piscinas naturais de água trincando de gelada, grutas e também a devastaçao ao meio ambiente, promovida pelas inúmeras pedreiras instaladas no entorno. Naquele final de sábado, caiu uma noite muito fria e de céu limpo. Um banho e um delicioso prato de arroz-feijão-ovo frito-linguiça-couve, saído do fogão a lenha de um restaurante muito simples e aconchegante, foi o que precisamos para nos refazer do dia e partir rumo ao Morro do Cruzeiro, de onde se tem uma visão 360º de tirar o fôlego. Devido à completa falta de iluminação ali em cima e à noite absurdamente cristalina, nosso ufólogo já foi avisando que possivelmente veríamos alguma coisa, mas que não seria necessariamente algum fenômeno extraterrestre. O simples fato de olharmos para o céu numa noite daquelas, num lugar daquele, era certeza de presenciar eventos astronômicos que em uma cidade como São Paulo não havia como presenciar.

Chegamos ao morro éramos umas 20 pessoas. Agasalhados e embrulhados em mantas, deitamos no chão de pedra, os olhos todos voltados para o céu. Nenhum de nós nunca vira tanta estrela. O combinado era que se alguém reparasse algo diferente, que alertasse aos outros. Em silêncio, passou uma hora, passaram duas, talvez três. Tirando várias estrelas cadentes, que logo caíram na rotina, nada de realmente notável havia acontecido. A noite, porém, continuava linda. E prometia.
(continua)

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