sexta-feira, 29 de maio de 2009

Sábado de manhã em São Paulo

Quem estiver em Sampa amanhã de manhã (não é o meu caso, infelizmente), apesar do frio ter baixado também por aquelas bandas, uma sempre ótima pedida é dar uma parada no Bar do Léo. Os que gostam de um chope bem tirado com espuma cremosa sabem onde fica: numa esquina da rua Aurora com a (se não me engano) rua dos Andradas, encravado naquele lugar tão suspeito quanto lindo, que é o centro velho da capital paulista. Bem atrás do prédio redondo do Instituto de Identificação, pertinho do final da avenida Ipiranga, lado oposto ao famoso cruzamento com a São João, imortalizado pelo Caetano e por um outro bar lendário, o Bar Brahma. Tem que chegar antes do almoço, porque aos sábados o Bar do Léo fecha no início da tarde, ou pelo menos era assim quando eu morava por lá.

Agora, pra quem mora em Curitiba (como é o meu caso), e sabe curtir o frio que faz nessa época, eu recomendo um bom chope escuro no copo caldereta, de preferência um da Brahma. Ah, e vá correndo, porque a Brahma está implantando aos poucos nos bares daqui aquela invenção ridícula que atende pelo nome de "Brahma black", uma bobagem marketeira que vai me obrigar a mudar de marca na hora em que eu quiser beber um chope escuro de verdade. Outra hora escrevo mais sobre essa história que não engulo e não vou engolir nunca. Bom final de semana!

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Não fui mas gostei

As tirinhas da famosa sex symbol Amely, criação da não menos famosa Priscila Vieira, estão em exposição desde ontem no Centro de Criatividade de Curitiba.


terça-feira, 26 de maio de 2009

Ianellli, o maior


Arcangelo Ianelli, em tela do argentino Pablo Di Giulio, 1991


"Cervejaria Brahma", 1957

"Vibrações em vermelho", 2001

Eu já gostava demais do pouco que conhecia da sua obra, até que vi uma exposição no MASP que retratava toda a sua trajetória artística. Desde as pinturas figurativas, passando pela fase de transição nos anos de 1950 até a definitiva opção pela abstração - estilo de pintura de minha preferência - estava tudo lá: as composições geométricas, a profundidade da cor, a luz e a ausência de luz, tudo. Sempre pensei que se eu tivesse muita grana para gastar com obras de arte, seria uma tela dele que eu compraria por primeiro. Diante de uma pintura do Ianelli, sou capaz de permanecer por horas. Soube agora que ele se foi, aos 86 anos de idade, em São Paulo, cidade onde nasceu, onde nascemos.

Enquanto isso, no blog do Zé Beto

Foto de Roberto Corradini

sexta-feira, 22 de maio de 2009

Valeu, Zé!

Zé Rodrix, que infelizmente nos deixou hoje. Foto de Drika Bourquim

Tive a felicidade de conhecer pessoalmente José Rodrigues Trindade, uma das cabeças mais criativas e produtivas que este país já teve. Além de cantor e compositor, era multiinstrumentista, produtor musical, escritor e publicitário. Meu contato com o Zé Rodrix aconteceu quando eu era redator estagiário da agência de publicidade JWT, de São Paulo, e acabava de aprovar meu primeiro roteiro de comercial para a TV. A produção, que seria ambientada em uma linda fazenda de café, contava com dois atores de primeira linha da propaganda e uma boiada de verdade. O produto era o Duotin, vacina para imunizar o gado, produzida pela gigante multinacional Merk, Sharp & Dohme.

O estúdio A Voz do Brasil, localizado em um amplo imóvel no bairro paulistano dos Jardins, já era na época uma das principais produtoras de áudio do mercado. Tinha como sócios, além do Zé Rodrix, o Tico Terpins (falecido em 1998), outra figuraça que, como o Zé, era também integrante do Joelho de Porco, grupo precursor do movimento punk no Brasil.

Lembro de ter ficado de queixo caído com as instalações da produtora, e mais ainda por ser recebido pessoalmente pelo Zé Rodrix, que ao saber que eu era um estagiário redobrou-se em gentileza e carinho. Fomos tomar um café em uma das salas da casa e conversar um pouco. Ele era a simpatia em pessoa, um cara acostumado a receber bem, um sujeito agradável e culto, absolutamente seguro da sua capacidade de cativar. Lembro muito bem dos seus olhos terem brilhado de surpresa quando revelei que possuía um LP dele, e que uma das músicas daquele LP, o belo blues “Exército da Salvação”, tinha servido de trilha para alguns dos meus romances na juventude. Ele sorriu com sinceridade e se disse feliz por saber daquilo, embora não gostasse de lembrar de sua carreira solo, desgostoso que tinha ficado com a indústria fonográfica.

O Zé levou a mim e à Naná, então produtora de rádio e TV da agência, até uma sala equipada com uma enorme mesa de som. Ele pôs para rodar a trilha que havia criado para o comercial, uma peça instrumental que deveria conter elementos rurais, mas não poderia ser “caipira”, já que iríamos falar com grandes produtores, gente que geralmente nem vive nas fazendas. Assim que a música começou me encantei com a qualidade do material. O tema era lindo e certeiro, pontuava as cenas e os diálogos com precisão e atendia exatamente ao que esperávamos e precisávamos. Perfeito, bastava finalizar.

Nos despedimos satisfeitos com o resultado da “parceria”. Deixei claro que me senti feliz e honrado por ter trabalhado com ele, ao que ele agradeceu e desejou que nos víssemos de novo. Isso aconteceu somente uma outra vez, quando fui assistir ao ensaio do espetáculo "Não Fuja da Raia", cuja direção musical era do Zé Rodrix. Fui na qualidade de aluno de um curso de teatro, do qual também fazia parte a futura atriz Milla Christie. Assim que entramos vimos a Cláudia Raia no palco, jogando seus quilômetros de pernas pro ar. Olhei para a primeira fila de poltronas e lá estava ele, fazendo anotações, comentando, orientando, atento a tudo. Colocando mais uma vez seus múltiplos talentos a serviço da arte.

quinta-feira, 21 de maio de 2009

Você viu o que eu vi? (final)

Rua de São Thomé das Letras. Foto sem crédito


Eu já estava me preparando para amanhecer por ali mesmo. Se caísse no sono, tanto melhor. A idéia de ser acordado pelos primeiros raios de sol vindos daquele horizonte fantástico me parecia mais do que perfeita. Mas a vontade de descer, procurar um bar aberto e tomar um trago de uma bebida qualquer, também não soava nada má. Eu disse “bebida qualquer”, porque àquela altura São Thomé das Letras não oferecia nada muito animador em termos de bares e restaurantes. E onde se lê “nada”, entenda-se nada mesmo. Atualmente, não sei como está por lá. Mas em uma cidade povoada por um considerável contingente de malucos – no melhor dos sentidos – um boteco qualquer haveria de permanecer aberto madrugada adentro, ainda mais no final de semana. Mas voltemos ao céu, às zilhões de estrelas, à paciente espera por algo que não sabíamos o que seria nem se viria.

Eis que, do nada, acontece. Do nada significa de uma hora para outra. Quer dizer, de um pentelhésimo de segundo para outro, num piscar de olhos, sem prévio aviso, sem nada que trouxesse pistas de que ele viria.

– Gente, o que foi isso? – Minha nossa, esquentou tudo! – Eu senti um tranco no chão, parece que mexeram na montanha. – Não é possível, será? – Meu, eu nunca vi uma luz assim.

Imagine que Deus virou um fotógrafo amador. Aliás, antes disso, imagine que você não só acredita em Deus como acha que Ele é um sujeito enorme, boa pinta, longa barba branca e cabelos idem. Pensou no Antonio Fagundes naquele filme? Ok, vamos ficar com essa referência. Pois o Todo Poderoso acaba de comprar uma máquina fotográfica digital power, daquelas com 48 mega pixels (é, pra Ele já tem máquina assim). E resolveu testá-la bem naquela noite, bem com aqueles rapazes e moças que, Ele não sabia por que, não queriam sair do relento de jeito nenhum, Deus me livre!

Do nada, recebemos um poderoso flash vindo do céu. Um clarão instantâneo , intenso, que produziu calor e uma sensação de energia física que um sentiu como um tranco, outro sentiu como uma descarga elétrica, outro não sentiu nada, apenas viu e ficou pasmo. Tudo clareou de repente, como se tivesse sido atingido por um relâmpago seco. Nossos rostos, nossas mantas, a cruz de madeira sobre nós, o quartzito da montanha, toda a área ao redor, tudo ficou claro sob a luz daquele imenso flash. Olhamos uns para os outros. Deu medo. Um certo medo de não saber nem descrever aquilo, de não saber se era tudo ou viria mais. Eu pensei no bar. Minha amiga pensou no Spielberg. O ufólogo se adiantou em dizer “não me perguntem o que foi isso, que não faço a menor idéia”. E agora? Ficamos mais? Claro que sim. Se viemos até aqui, vamos até o dia nascer. Não deu. Minutos depois desse evento, dois caras que deviam estar chegando àquela hora de Woodstock, violão em punho e aura de erva no ar, vieram se sentar ao pé do cruzeiro para cantar algo do Beto Guedes. Mas numa rotação bem mais lenta que a gravação original.

Era hora de levantarmos acampamento. Lá embaixo, em uma das ruas de pedra da cidade, achamos aberto um boteco. O casal que estava com a gente foi para a pousada. Ficamos eu, minha amiga, o ufólogo e o fotógrafo conversando sobre a noite, suas luzes, São Thomé e seus malucos, dos quais já desconfiávamos fazer parte. Tudo acompanhado por três garrafas de um vinho ordinário que o dono do bar garantiu ser um tinto “muito bom!”. O domingo nos encontrou saindo do bar. Dormir já não era necessário. Um café com leite, pão, manteiga e queijo branco, isso sim. Ah, e doce de leite, daqueles cremosos que só Minas faz. Daqueles que só comendo pra crer.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Você viu o que eu vi? (parte 2)

Imagem obtida pelo telescópio espacial Hubble


(continuação do post anterior)

De vez em quando, algum de nós soltava um comentário qualquer pra quem estava deitado ao lado, mas ninguém se manifestava muito. O povo parecia tomado por um misto de cansaço e admiração, e parecia também realmente disposto a cumprir à risca a recomendação do nosso ufologista, de que não fizéssemos nenhuma agitação desnecessária.

Eu não tenho mais certeza do horário em que aconteceu, mas acredito que estávamos perto das 2 da madrugada. Definitivamente, aquilo não era um evento normal. Imagine-se olhando para o firmamento numa noite de teto de planetário. Multiplique essa sensação por dois. Agora, olhe para o lado esquerdo dessa tela imaginária e veja uma luz se sobressair em meio a infinitos pontos luminosos. Pois essa luz vai começar a se deslocar para a direita, quase em linha reta, numa velocidade que lembra um avião em curso. Até aí, nada tão retumbante, a não ser por um detalhe: durante todo esse trajeto, o objeto iluminado irá riscar o céu com uma linha de luz que permanecerá intacta desde o seu ponto de partida até o final da trajetória, que acontecerá do lado direito da tela. E mais: assim que o objeto chegar ao final do seu trajeto, ela irá parar por um instante, o suficiente para você conferir que o rastro de luz continua lá, inteirinho, para só então se apagar, levando com ele, aí sim, todo o rastro que quase dividira o céu em duas partes.

– Você viu o que eu vi? – Vi! – Caramba, o que foi aquilo? – Não faço ideia. – Será que era um cometa? – No começo, achei que fosse um avião. – Mas não pode ser avião, não era avião, não. – Cometa também não era, eu acho. – Meu, que coisa linda! – Tô arrepiada até agora.

Aos poucos, todos voltamos a ficar em silêncio, na certeza de que mais coisas iriam acontecer naquela noite. Eu olhei para a minha amiga, que estava deitada bem ao meu lado, e concordamos pelo olhar que aquele era um momento especial. Nosso amigo ufólogo não se manifestou de pronto, apenas pediu que continuássemos observando. Estaria ele também meio embriagado com o objeto luminoso?

Deve ter passado mais uma hora de espera, e voltamos à rotina das estrelas cadentes, que também começavam a rarear. Parte do povo iniciou uma debandada de volta à pousada, tinha ficado muito tarde e ainda mais frio. O cansaço da viagem na madrugada anterior e do dia cheio de atividades estava pegando. Quase todos decidiram descer a montanha pra dormir. Ficamos apenas eu, minha amiga, o ufólogo, o fotógrafo e mais um casal de namorados, aliás, o único casal oficial entre todos que tinham saído de São Paulo. Demos boa noite a todos que saíram e mantivemos os olhos voltados para o alto. Aliás, os olhos continuavam abertos por pura teimosia, por curiosidade, por amor às coisas da vida. Essa meia-dúzia de teimosos que lá permaneceu seria recompensada com outro evento fora do comum.


(continua)

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Você viu o que eu vi?

A cruz do Morro do Cruzeiro, em São Thomé das Letras. Foto de Luiz Felipe Brandão

Com o perdão do trocadilho, São Thomé das Letras é uma cidade mineira que só vendo pra crer. Surgida no alto de uma montanha de quartzito, fica a quase 1.500 metros acima do nível do mar. É considerada mística, por isso grande parte do turismo local se baseia na exploração do universo exotérico. Por suas ruas e construções todas feitas de pedra fatiada e empilhada, topei com algumas figuras humanas interessantíssimas, muitas das quais largaram tudo para viver naquele cenário que parece saído da imaginação daquelas próprias figuras.

Considerada uma das localidades brasileiras mais propícias para a observação de fenômenos extraterrestres (isso mesmo), São Thomé é muito visitada por quem, de alguma forma, se interessa pelo estudo da vida em outros planetas. Não é exatamente o meu caso, mas como jamais duvido do que não conheço, juntei-me a alguns amigos do IPEN, Instituto de Pesquisas Energéticas e Nucleares da USP, alugamos um ônibus e partimos de São Paulo, numa noite de sexta-feira já perdida no tempo. Na viagem, nos acompanhavam um fotógrafo profissional e um ufologista, convidado por nós para nos ajudar a entender o que poderíamos encontrar, se é que encontraríamos.

Na estrada, tivemos nosso primeiro contato com fatos inexplicáveis: o ônibus tinha toca-fitas, mas só havia uma fita K-7 a bordo, que tinha sido levada pelo motorista. Assim, ouvimos "The Best of ABBA" quase a noite toda...
Chegamos na cidade no início da manhã, depois do ônibus subir, subir e subir o sinuoso caminho que levava ao topo daquela grande pedra. Após um café reforçado, saímos para conhecer os arredores, as cachoeiras, corredeiras, piscinas naturais de água trincando de gelada, grutas e também a devastaçao ao meio ambiente, promovida pelas inúmeras pedreiras instaladas no entorno. Naquele final de sábado, caiu uma noite muito fria e de céu limpo. Um banho e um delicioso prato de arroz-feijão-ovo frito-linguiça-couve, saído do fogão a lenha de um restaurante muito simples e aconchegante, foi o que precisamos para nos refazer do dia e partir rumo ao Morro do Cruzeiro, de onde se tem uma visão 360º de tirar o fôlego. Devido à completa falta de iluminação ali em cima e à noite absurdamente cristalina, nosso ufólogo já foi avisando que possivelmente veríamos alguma coisa, mas que não seria necessariamente algum fenômeno extraterrestre. O simples fato de olharmos para o céu numa noite daquelas, num lugar daquele, era certeza de presenciar eventos astronômicos que em uma cidade como São Paulo não havia como presenciar.

Chegamos ao morro éramos umas 20 pessoas. Agasalhados e embrulhados em mantas, deitamos no chão de pedra, os olhos todos voltados para o céu. Nenhum de nós nunca vira tanta estrela. O combinado era que se alguém reparasse algo diferente, que alertasse aos outros. Em silêncio, passou uma hora, passaram duas, talvez três. Tirando várias estrelas cadentes, que logo caíram na rotina, nada de realmente notável havia acontecido. A noite, porém, continuava linda. E prometia.
(continua)

sexta-feira, 8 de maio de 2009

Mãe do Samba

Dona Ivone Lara dando "a bença" para Moacyr Luz, em foto publicada no site do Moa

Ela foi a primeira mulher a integrar a ala dos compositores de uma escola de samba, no caso, a Império Serrano, do meu parceiro Wilson das Neves. Quem a conhece, garante que ela emana uma energia que ilumina tudo e todos que estiverem por perto. Grande compositora, excelente cantora, se existe uma mulher que pode ser chamada de "Mãe do Samba", esta mulher é Dona Ivone Lara. E é na figura desta pessoa iluminada que desejo um lindo Dia das Mães.

quarta-feira, 6 de maio de 2009

Eu e a Miss

Léa Silvia Dall'Acqua, Miss São Paulo 1979, em foto sem crédito

Silvia Novais, Miss São Paulo 2009, em foto sem crédito

Ainda um pouco nessa toada nostálgica que iniciei com o post sobre a Mônica, na semana passada, eis que no próximo sábado teremos o concurso Miss Brasil 2009. Isso mesmo, aquele evento pra lá de cafona vai acontecer de novo. No passado, o concurso tinha grande repercussão na mídia e atraía a atenção do público televisivo (palavrinha antiga, né?). Ainda hoje, muita gente assiste e torce por suas candidatas favoritas, mas o interesse caiu muito.

A mais famosa delas certamente foi a baiana Martha Rocha, a primeira Miss Brasil, eleita em 1954, que até virou nome de torta nas confeitarias de Curitiba. E uma torta muito da gostosa, diga-se. Tivemos também a Vera Fisher, que representava Santa Catarina e se elegeu em 1969, partindo daí para uma carreira de destaque como atriz. Além das duas, raras foram as misses que conseguiram sobreviver na mídia após o concurso.

Minha história com essas beldades (outra palavrinha antiga) é curta e pouco importante, mas aconteceu. Eu era office-boy (função extinta há tempos) de um jornal de bairro em São Paulo, a "A Gazeta da Zona Norte". Foi meu primeiro emprego, conseguido aos 14 anos, numa época em que o trabalho, ao menos para os meninos das classes mais populares, começava oficialmente nessa idade. Certa vez, fui incumbido de ir à casa da Léa Silvia Dall'Acqua, recém eleita Miss São Paulo. Ela era modelo e morava em Sampa, no bairro de Santana, apesar de ter concorrido como representante da cidade de Campinas. Eu tinha que buscar um envelope com fotos dela, que seriam publicadas no jornal para ilustrar uma matéria alusiva à conquista.

Lembro que ela me atendeu na sala de um sobrado comum de classe média, e me pareceu ser realmente uma mulher bonita. Bonita e delicada. Confesso que eu não tive, assim, muita noção de que estava diante de uma mulher bonita. Apenas peguei o envelope das mãos dela, agradeci e fui-me embora. Mas que me senti animadinho, isso me senti. Na volta, já dentro do ônibus, claro que abri o envelope pra espiar as fotos ;-)

Sei que depois ela ficou em terceiro lugar no concurso de Miss Brasil, ganhando o direito de representar o país no Miss Mundo, em Londres, onde se classificou em sexto lugar. Nunca mais ouvi falar dela. Uma curiosidade, se posso falar assim, é que a representante de São Paulo que vai concorrer no próximo sábado ao Miss Brasil, 30 anos depois do meu encontro com a Léa, também representou Campinas e também tem Silvia no nome. Só isso. Não falei que era algo sem importância?

terça-feira, 5 de maio de 2009

Samba para Teresa

Praga, 1968, em foto sem crédito

Foi uma lembrança literária que me veio a partir de uma frase linda dita por uma amiga acerca do amor, ou mais exatamente acerca do desamor, e que me inspirou um samba recente. Trata-se do livro “A Insustentável Leveza do Ser”, do tcheco Milan Kundera. Não é um livro fácil, posto que todo acompanhado de reflexões filosóficas; não é uma história fácil, posto que gira em torno de um triângulo que eu me nego a chamar de “amoroso”, embora o seja, e que tem como pano de fundo o esmagamento da Primavera de Praga pelas forças russas, em 1968.

À “leveza”, ilustrada no livro pelo descomprometimento – isso pra não me alongar muito – do sedutor médico Tomas (e também de sua parceira Sabina), opõe-se o “peso”, representado pela chegada da personagem Teresa. Ou, em uma outra interpretação possível, a “liberdade” em contraposição com a “não-liberdade”.

Não tenho uma memória bem definida do desfecho do romance. Aliás, pode ser que eu nem tenha chegado às últimas páginas, mas sei do mal estar que permeou toda a história, do sofrimento de Teresa ao permitir-se aceitar o desprezo de Tomas a tudo que, para ela, ele representava. Desprezo travestido de compaixão que, como se sabe, pode ser um dos sentimentos humanos mais terríveis.


O samba que fiz não tem nada desse clima, porque quis relatar uma espécie de “redenção às avessas” de uma possível Teresa que tivesse ido além da indiferença de Tomas; que tivesse se dado conta de que foi ela quem finalmente deu algum sentido à vida daquele “tão leve” ser. Acho que as pessoas que puderem ouvir o samba, um dia, irão entendê-lo exatamente pelo que ele é, um desabafo, um gostoso desabafo pra ser cantado de peito aberto e sorriso nos olhos. Ah, a Primavera também entrou na letra, claro.

segunda-feira, 4 de maio de 2009

Um dia de paparazzi

Princesa Diana em foto de Gláucia Salles

Verão europeu de 1996. Eu e meus amigos paulistanos Ivo, Mara e Gláucia curtíamos um giro maravilhoso de 40 e poucos dias pela Europa, que incluiu algumas das principais cidades da Espanha, Itália e Alemanha, além de uma passadinha pela Áustria. Naqueles exatos dias andávamos encantados por Roma quando, após subirmos a escadaria da Piazza Spagna, eu e a Gláucia deparamos com uma pequena aglomeração de pessoas em frente a um prédio muito charmoso. O Ivo e a Mara tinham ido à estação ferroviária comprar nossas passagens pra Veneza. Perguntei a um dos que lá estavam o que acontecia e ele respondeu “Princess Di”. Aquele prédio baixo e sem qualquer sinalização era, na verdade, um hotel de luxo, e de lá de dentro sairia, a qualquer instante, aquela que era então uma das mulheres mais famosas e queridas do mundo, a Princesa Diana. Decidimos fazer o mesmo que as 40 ou 50 pessoas e esperar alguns minutos.

Comentei com a Gláucia que se aquilo acontecesse no Brasil, certamente a aglomeração seria bem maior e, provavelmente, bem menos calma. A maquina fotográfica, ainda aquelas “de filme”, estava comigo, mas a entreguei à Gláucia, que é uma mulher de 1,80m, portanto, mais indicada que os meus 1,75m para conseguir uma foto no meio de europeus bem alimentados.

Nisso chegou um carro preto, se não me engano um Rolls Royce. O carro encostou próximo à entrada do hotel e as pessoas passaram a ficar mais ansiosas, ela ia aparecer. Dito e feito, junto à porta de vidro do hotel que se abria surgiu a belíssima princesa e seus olhos e sorriso luminosos. Ela acenou para as pessoas, que aplaudiam emocionadas. A Gláucia tirou 2 ou 3 fotos dela saindo do prédio e indo até o carro, acompanhada de um casal por nós desconhecido. Foi quando a Gláucia teve a ideia de se virar para o lado contrário, pois aquela rua estreita só permitiria que o carro saísse por ali, nós que estávamos posicionados entre os últimos da pequena turba. O carro passou exatamente colado a nós, em velocidade baixa o suficiente para que pudéssemos obter esta imagem aí de cima.

Quase que um ano após isso, Diana morreria em Paris, tentando se desvencilhar de implacáveis paparazzi.