quinta-feira, 21 de maio de 2009

Você viu o que eu vi? (final)

Rua de São Thomé das Letras. Foto sem crédito


Eu já estava me preparando para amanhecer por ali mesmo. Se caísse no sono, tanto melhor. A idéia de ser acordado pelos primeiros raios de sol vindos daquele horizonte fantástico me parecia mais do que perfeita. Mas a vontade de descer, procurar um bar aberto e tomar um trago de uma bebida qualquer, também não soava nada má. Eu disse “bebida qualquer”, porque àquela altura São Thomé das Letras não oferecia nada muito animador em termos de bares e restaurantes. E onde se lê “nada”, entenda-se nada mesmo. Atualmente, não sei como está por lá. Mas em uma cidade povoada por um considerável contingente de malucos – no melhor dos sentidos – um boteco qualquer haveria de permanecer aberto madrugada adentro, ainda mais no final de semana. Mas voltemos ao céu, às zilhões de estrelas, à paciente espera por algo que não sabíamos o que seria nem se viria.

Eis que, do nada, acontece. Do nada significa de uma hora para outra. Quer dizer, de um pentelhésimo de segundo para outro, num piscar de olhos, sem prévio aviso, sem nada que trouxesse pistas de que ele viria.

– Gente, o que foi isso? – Minha nossa, esquentou tudo! – Eu senti um tranco no chão, parece que mexeram na montanha. – Não é possível, será? – Meu, eu nunca vi uma luz assim.

Imagine que Deus virou um fotógrafo amador. Aliás, antes disso, imagine que você não só acredita em Deus como acha que Ele é um sujeito enorme, boa pinta, longa barba branca e cabelos idem. Pensou no Antonio Fagundes naquele filme? Ok, vamos ficar com essa referência. Pois o Todo Poderoso acaba de comprar uma máquina fotográfica digital power, daquelas com 48 mega pixels (é, pra Ele já tem máquina assim). E resolveu testá-la bem naquela noite, bem com aqueles rapazes e moças que, Ele não sabia por que, não queriam sair do relento de jeito nenhum, Deus me livre!

Do nada, recebemos um poderoso flash vindo do céu. Um clarão instantâneo , intenso, que produziu calor e uma sensação de energia física que um sentiu como um tranco, outro sentiu como uma descarga elétrica, outro não sentiu nada, apenas viu e ficou pasmo. Tudo clareou de repente, como se tivesse sido atingido por um relâmpago seco. Nossos rostos, nossas mantas, a cruz de madeira sobre nós, o quartzito da montanha, toda a área ao redor, tudo ficou claro sob a luz daquele imenso flash. Olhamos uns para os outros. Deu medo. Um certo medo de não saber nem descrever aquilo, de não saber se era tudo ou viria mais. Eu pensei no bar. Minha amiga pensou no Spielberg. O ufólogo se adiantou em dizer “não me perguntem o que foi isso, que não faço a menor idéia”. E agora? Ficamos mais? Claro que sim. Se viemos até aqui, vamos até o dia nascer. Não deu. Minutos depois desse evento, dois caras que deviam estar chegando àquela hora de Woodstock, violão em punho e aura de erva no ar, vieram se sentar ao pé do cruzeiro para cantar algo do Beto Guedes. Mas numa rotação bem mais lenta que a gravação original.

Era hora de levantarmos acampamento. Lá embaixo, em uma das ruas de pedra da cidade, achamos aberto um boteco. O casal que estava com a gente foi para a pousada. Ficamos eu, minha amiga, o ufólogo e o fotógrafo conversando sobre a noite, suas luzes, São Thomé e seus malucos, dos quais já desconfiávamos fazer parte. Tudo acompanhado por três garrafas de um vinho ordinário que o dono do bar garantiu ser um tinto “muito bom!”. O domingo nos encontrou saindo do bar. Dormir já não era necessário. Um café com leite, pão, manteiga e queijo branco, isso sim. Ah, e doce de leite, daqueles cremosos que só Minas faz. Daqueles que só comendo pra crer.

Um comentário:

Beth Kasper disse...

Nooossa!
Que experiência! Eu não sei como reagiria presenciando um fenômenos igual ao que contaste.
Incrível!