quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Trágica feito ópera

Túmulo de Carlos Gomes, Campinas. Foto de Leandro Moreira

Como prometido, retomo a pequena biografia do ilustre campineiro Carlos Gomes. Estávamos em 1871, ano em que o maestro apresentou no Scalla de Milão sua principal obra, a ópera "O Guarani". Neste mesmo ano, casou-se com a pianista italiana Adelina Peri. Saudado pelo público e crítica, inicia uma temporada pelos principais teatros da Europa. Entretanto, o círculo virtuoso de Carlos Gomes começa a entrar em declínio. Na cidade italiana de Lecco ele constrói uma mansão, a Villa Brasília, que marca o início de um processo irreversível de endividamento. Por esta época, sente um duro golpe: aos cinco anos de idade, morre Mário, talvez o mais próximo dos cinco filhos que teve com Adelina. À morte de Mário, soma-se a perda de outros dois filhos, todos muito jovens. Como se não bastasse, uma sucessão de partituras inacabadas e de críticas negativas a novas composições faz com sua carreira decline rapidamente. Nem a consagrada "O Guarani" lhe rende mais dinheiro, já que se viu obrigado a vender os direitos da mesma para um editor. Separa-se de sua mulher e entra em forte depressão, aliviada somente a custa de ópio. Eis que em 1889 é proclamada a república no Brasil, e aquele que era tido como “protegido de imperador” se vê renegado pela nova ordem. Viaja para os Estados Unidos, mas a subvenção do governo é pouca para a estrutura que suas obras exigem, então se apresenta para públicos minúsculos, e gratuitamente. Retorna à Europa e recebe, em Lisboa, aquela que seria a derradeira homenagem, a Comenda de San Tiago. Com graves problemas financeiros e já muito doente, com câncer na garganta, volta ao Brasil para assumir a direção do Conservatório de Música de Belém do Pará. Ocupa o posto por apenas cinco meses. Em 16 de setembro de 1896, aos 60 anos de idade, Antonio Carlos Gomes silencia.

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